— 02 de janeiro de 2024
Os incontáveis personagens que Sergio desenhou, assim como ele próprio nas suas autocaricaturas durante seus 60 anos de criação, expressam humanidade com gestos, movimentos, apetrechos e vestes. Podemos dizer que Sergio tinha algum encanto pela moda, no seu jeito todo único de ser Sergio Rodrigues. LEIA MAIS

Ainda criança, passando férias na fazenda de amigos da família, o pequeno Sergio escreve para sua avó, Stella, pedindo que ela lhe traga uma fantasia para o Carnaval. Acompanhando o manuscrito, Sergio desenha um príncipe hindu, indicando como imagina o artefato.

Quase 80 anos depois, num domingo, um jornal local de Frankfurt, na Alemanha, publica uma matéria sobre a trajetória profissional de Sergio Rodrigues. O texto faz analogias como: “Ayrton Senna do design brasileiro, um popstar” e coisa e tal e completa dizendo que “Sergio se vestia como um menino que a mãe deixa escolher as roupas sozinho”.

Os incontáveis personagens que Sergio desenhou, assim como ele próprio nas suas autocaricaturas durante seus 60 anos de criação, expressam humanidade com gestos, movimentos, apetrechos e vestes. Podemos dizer que Sergio tinha algum encanto pela moda, no seu jeito todo único de ser Sergio Rodrigues.

Há dois anos, iniciamos os primeiros contatos entre a Handred e o Instituto Sergio Rodrigues, que deram fruto ao projeto de colaboração criativa entre as duas entidades, esboçado por André Namitala. Iniciamos, assim, um animadíssimo mergulho no mar de documentos do Instituto. Dezenas de histórias compartilhadas, inúmeras garrafas de vinho esvaziadas, conseguimos reproduzir nesses encontros o ambiente e a atmosfera que Sergio tanto prezava – estar entre amigos para celebrar a vida e a imaginação.

Ao mirar nos desenhos de arquitetura e de interiores de Sergio, André transforma as perspectivas do nosso mestre, encontrando novas linhas do horizonte e novos pontos de fuga, linguagem analógica de quem aprendeu geometria descritiva em pranchetas com réguas paralelas, como Sergio. 

A partir de objetos concebidos por Sergio, o que André faz é imaginar aplicações que recriam padrões estéticos e transformam, na visão de quem observa, a utilidade que foi idealizada pelo designer.

Namitala transporta para seus suportes de ofício – o linho, a seda, a organza e o algodão – todo o universo criativo de Rodrigues. Assim, se formam desenhos reconfigurados e arranjos que criam estampas e bordados que já não são somente Sergio Rodrigues, tampouco exclusivamente Handred. São a expressão, a um só tempo, de duas forças criativas que trazem à luz o legado revigorado de Sergio Rodrigues sob o olhar inovador do jovem e talentoso estilista.


Fernando Mendes
Presidente do Instituto Sergio Rodrigues