Tudo nos leva de volta à Bahia, território que retornamos e que nos inspiramos de tempos em tempos. Esse ano, para a Coleção de Verão 2025, subimos o Rio Paraguaçu e ancoramos em Cachoeira, cidade histórica e importante, preservada no tempo e ao mesmo tempo de efervescência artística e cultural.

Nascido de águas escuras, das minas das rochas da Chapada Diamantina, o Paraguaçu muda de tamanho e cor conforme traça seu caminho pela Bahia. Quando passa pelo Recôncavo é largo e caudaloso, preparando para se tornar oceano. Quando chega a Salvador e abraça a Baía de Todos os Santos já é mar, seu sabor já é sal.

Do rio, ouvimos histórias antigas, lendas e contos. Das crenças do sagrado aos atabaques dos Tincoãs. O rio é vivo e sopra segredos para quem for atento e curioso. Sopra lágrimas de vidro que, bordadas uma a uma na seda, trazem o brilho de um lustre.

Contam que quando uma anciã da Irmandade da Boa Morte morre, ela se transforma em garça e volta voando para a África. A Irmandade da Boa Morte é uma confraria religiosa afro-católica brasileira formada apenas por mulheres. Nossas garças saem do vestido em pleno vôo. As meias luas características da arquitetura do batente das janelas das casas antigas aparecem bordadas em repetidas linhas.

Estampas inspiradas em cenas e animais da região colorem nossas modelagens: o fim do dia na margem do rio, a partir de pintura a óleo da artista Beatrice Arraes; o mito da enorme serpente que vive submersa no rio é contemplado com o animal bordado a mão pelo grupo Chitarte; associação de mulheres artesãs fundada em 1988 na cidade de Cachoeira. Para elas, o bordado é uma ferramenta de empoderamento, inclusão e transformação social. A Chitarte também atua em projetos sociais, oferecendo oficinas e capacitações para mulheres e jovens; temos também o mergulho no rio, onde o corpo se mistura com as águas aquareladas e desaparece em sua corrente.

O vento molda as velas dos saveiros e guia o tempo de navegação de cada costura. O calor do verão é inegável e a pele carrega a história do sol. O Paraguaçu banha o anfiteatro baiano.