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A música sempre guiou o caminho do pianista, sanfoneiro e compositor Francisco Pellegrini. Foi ela quem o levou às rodas de samba e choro, às salas de concerto, ao cinema, à literatura, à vontade de viajar o mundo e ao Vale das Videiras. No ano de 2014, Chico percebeu que não fazia mais sentido morar na cidade. Resolveu viajar pelo nordeste do Brasil e conhecer a Europa. Seus pais tinham uma terra no Vale das Videiras desde 2013 e depois de suas andanças pelo mundo, Chico se mudou para o campo. Junto com seu piano e alguns discos gravados na bagagem, foi criando um vínculo com a terra.
Um dia começaram a cortar um capim que estava muito alto do outro lado do rio. Foi averiguar meio assustado, com medo de cortarem mato demais e do que seria construído ali. Conversa vai, conversa vem, o dono do terreno cedeu o espaço para o projeto de abrir um viveiro, o qual chamaram de Muda Tudo. “Eu já conhecia o sistema agroflorestal e começamos a plantar as árvores do viveiro nesse sistema. A gente foi experimentando as diferentes combinações, entendendo qual árvore seria a melhor biomassa pro terreno, a melhor poda… Daí trouxemos pessoas que moravam perto para dar uma palestra e nos orientar.” Francisco começou um ciclo de palestras e sessões de cinema abertos ao público sobre assuntos relacionados ao meio ambiente. O viveiro foi virando referência no Brasil pela forma cuidadosa e sustentável em que ele é mantido. “São apenas 2 mil metros quadrados, aproximadamente, mas é bastante trabalho. Fizemos várias experiências e depois fomos acertando com os aprendizados. Lá tem um período de seca forte, às vezes fica 3 meses sem chover. Então tive que criar um sistema de espécies que sobreviveriam sem rega, que sozinhas se retroalimentariam com pouca água.”
Bárbara Pellegrini, mãe de Chico e semeadora do Muda Tudo.
Foi buscando pela paz de espírito que Chico mergulhou no sistema agroflorestal e se apaixonou pela complexidade da floresta, pela conexão que existe entre tudo que vive ali. “Fui buscar soluções, conhecer projetos, ouvir diferentes opiniões. Quando alguém te traduz o óbvio você fica embasbacado de como não percebeu antes! Já reparou que na floresta o solo está sempre coberto, protegido, úmido e as plantas crescem felizes e diversas? E que sempre tem um córrego ou uma nascente por perto? E que no deserto o solo está exposto, seco e nenhuma planta consegue crescer? E que é muito difícil encontrar água? Quando você for plantar sua comida você vai copiar o deserto ou a floresta?”
Ao observar de perto a natureza em seu dia a dia, Chico interiorizava pensando em suas composições. Para ele, fazer música é organizar os sons e criar um universo particular, infinitamente diverso. “Entendo que a harmonia e a beleza são características intrínsecas da natureza, e a música que eu gosto de fazer também tem (ou pretende ter) essas características: ao mesmo tempo complexa e exuberante nos pequenos detalhes, mas simples e bela pela harmonia em sua totalidade”.
Para Pellegrini a harmonia está presente também no momento de se apresentar no palco. “O que posso fazer, com palavras, gestos, vestuário, para induzir um ambiente mais propício para uma viagem mais profunda com minha música?” Ele só escolhe as músicas que estão vibrando dentro de si na ocasião e muitas vezes o repertório é decidido momentos antes de entrar no palco. Chico sabe que o vestuário e a postura são as primeiras impressões que o público tem do artista, por isso procura ser o mais neutro possível para evitar que percam o foco. Gosta de se sentir confortável: prioriza calças, meias quentes e camisas largas para não travar o movimento dos braços. “Quando eu soube o quanto as plantações de algodão poluem, responsáveis por 1/4 dos agrotóxicos mundiais, e que a água do planeta já está cheia de microplástico, muitas vezes provenientes de roupas sintéticas, deixei de comprar roupa. Hoje busco esse equilíbrio com roupas de segunda mão ou provenientes de agricultura de menor impacto ambiental e menor pegada de carbono, ou seja, o mais local e orgânica possível”.
No fim do nosso papo, indagado sobre as conexões naturais que a música provoca e dando um até logo, Chico disse:
“Muitas vezes a música (a arte em geral) te leva a lugares que nunca existiram ou que não existem mais. E isso é maravilhoso, porque faz com que o ouvinte, sem encontrar esse ambiente, o invente. As mudanças sempre começam dentro, no coração, numa ideia, numa sensação.”
Francisco Pellegrini hoje mora na Espanha com sua companheira e filho. Tem cinco discos autorais e todo ano visita o viveiro que ajudou a construir, mantido por seus pais.
Escute a música de Francisco Pellegrini:
O viveiro Muda Tudo fica no km 20 da Estrada Almirante Paulo Meira, em Petrópolis (RJ).
Imagens cedidas por Francisco Pellegrini.
Texto por Luísa Pollo.