Luiza Pollo — 05 de abril de 2023
No “auto ex-atual-retrato” de Lenora de Barros poderia constar: artista plástica, poeta, curadora, colunista, editora de fotografia, diretora de arte, performer, linguista. Para além da palavra e do universo teórico da poesia concreta, seus trabalhos expõem registros provocadores através da fotografia, vídeo arte e performance. Lenora é múltipla. LEIA MAIS

No “auto ex-atual-retrato” de Lenora de Barros poderia constar: artista plástica, poeta, curadora, colunista, editora de fotografia, diretora de arte, performer, linguista. Formada no fim da década de 1970 em linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na USP e marcada pelo concretismo herdado pelo pai artista Geraldo de Barros (1923 — 1998) e pelo interesse pela poesia concreta de Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari; Lenora é múltipla. Para além da palavra e do universo teórico da poesia concreta, seus trabalhos expõem registros provocadores através da fotografia, vídeo arte e performance. A presença ativa e indissociável de seu corpo em suas obras traz à tona, ainda, discussões sobre gênero.

 

Auto Ex-Retrato, 1993 — 2019

Suas obras carregam um humor provocador, cru e sensual. As palavras, o corpo e a imagem são dissecados e ao mesmo tempo explorados de forma livre, revelando influência na arte conceitual e pop. Nas palavras de Augusto de Campos: “libertação da palavra para fora das páginas”. A tridimensionalidade da palavra é o assunto, como esta ocupa um ambiente de forma visual, corporal e sonoramente. Lenora brinca com todas as simultâneas possibilidades. O poeta já não está escondido atrás de sua máquina de escrever. Sua saliva é revelada e sentida, sua língua literalmente toca letra por letra e é quase engolida pela “máquina de fazer poemas”. Sua proposta é crítica e provocadora. E quem observa a obra é provocado junto.

Poema, 1979

Para se desconstruir um poema vale um grito, uma língua vertebral de fora, um jogo de ping pong. Vale um mergulho de auto procura e o desejo de sair de si. Essa desconstrução e reconstrução é eterna. Nas vésperas da artista completar seus 70 anos, é possível ver seu trabalho em duas exposições em SP. Uma retrospectiva de sua carreira, na Pinacoteca, e na mostra “Não Vejo a Hora”, na nova sede da galeria Gomide & Co.

Ping-poemas, 1990 — 2000

 

Texto por Luísa Pollo

Foto de Abertura: Procuro-me, 2002