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Relato de viagem da visita ao atelier do Louco e do Mimo, artesãos da madeira da cidade de Cachoeira (BA). LEIA MAIS
No primeiro semestre de 2024, a equipe criativa da Handred fez uma viagem pelo Recôncavo Baiano e rio Paraguaçu acima para criar a coleção de verão daquele ano. A viagem rendeu encontros, trocas e histórias...
Ao andar pelas ruas da cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, é inevitável se deparar com portas, placas e outros adornos de madeira talhada. A arte na madeira é bem conhecida na região e isso se dá ao talento de Louco (Boaventura da Silva Filho, 1929 - 1992), que começou a esculpir nos anos 1960 junto com seu irmão Clóvis. Entre um corte de cabelo e outro na barbearia que comandavam, faziam pequenos cachimbos em cascas de cajá, com rostos e personagens esculpidos. Passaram a transformar raízes e pedaços de madeira em objetos únicos. Foi apelidado de Louco por freiras de um colégio tradicional da cidade que, ao passarem por perto da barbearia e ver aqueles trabalhos pouco convencionais, diziam às crianças: “Isso é trabalho de louco”.
“A produção de Louco aconteceu no contexto multicultural do Recôncavo, onde predominam as culturas religiosas de matrizes africana e católica. Batuques, procissões e festas organizadas por irmandades católicas e em terreiros de candomblé fazem parte do dia-a-dia da vida das pessoas da cidade. É desse imaginário coletivo e individual que provém a iconografia da obra de Louco, que esculpiu imagens de Cristo, Orixás, carrancas e outras figuras fantásticas. (...) Os contatos feitos no Mercado Modelo (Salvador) nos anos 1960 lhe proporcionaram uma inserção no mercado e contato com artistas. Carlos Teixeira, Jorge Amado, Carybé e outros. Hoje, o atelier funciona já com a terceira geração da família.” Suzane Pinho Pêpe, Professora de História da Arte, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em texto sobre o Louco.
Um dos seus discípulos foi Mimo, escultor e morador de Cachoeira. Conhecemos Mimo na beira do Paraguaçu, na viagem de pesquisa para a coleção. Sentamos ao seu lado para ouvir suas histórias e mitos locais, seu respeito pelo rio e pelo que a natureza nos dá. Mimo contou que foi o próprio Louco quem o ensinou a esculpir a madeira. Um dia, com sete anos, sentado na beira do rio enquanto esperava sua mãe lavadeira terminar o serviço, reparou no Louco trabalhando num pedaço de madeira. Mimo gostou do que viu e disse para si mesmo: “eu vou ser escultor”. E aí foi. Mimo virou assistente do Louco e aos poucos aprendeu o ofício. Hoje, é um dos responsáveis pela maioria das placas entalhadas da cidade e por seu próprio estilo como escultor.
Texto por Luísa Pollo
Referência bibliográfica: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/boaventura-da-silva-filho-o-louco/