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Nossa conversa com Thiago Modesto, o artista plástico e designer que a xilogravura original gerou a estampa da Cápsula Xilo. LEIA MAIS
Designer e artista plástico, Thiago Modesto não tem medo de misturar o digital moderno com artesanias milenares como a xilogravura. Criado no Rio de Janeiro, as temáticas reveladoras da pluralidade brasileira que figuram suas obras são inspiradas pela convivência com a avó que veio do interior e pelo contato com a natureza.
Em 2024 encomendamos uma xilogravura original com inspiração nas histórias do Paraguaçu que vieram navegando até o Rio de Janeiro. Essa obra virou estampa que gerou nossa Cápsula Xilo. Conversamos com Thiago sobre essa troca.
1. Por que você escolheu a madeira como base para traduzir seu trabalho na arte?
Acredito que seja um encontro que não vem do acaso. Sou muito conectado com a terra, de modo astrológico e também ancestral e espiritual. Quando era criança, meu sonho era me tornar um paleontólogo e escavar fósseis por aí. Hoje, vejo que de certa forma faço exatamente isso, pois o que seria a madeira se não um fóssil de uma árvore que antes era viva e que preserva em seus veios um calendário próprio de sua trajetória enquanto viva. E que mesmo morta, se mantém viva, sofrendo as ações do clima e do tempo. Goivas que abrem os sulcos na Madeira e revelam seu avesso são como pincéis que tiram a poeira do solo revelando o passado. Um amigo e curador disse uma vez que meu trabalho é o desterrar lembranças que se encontram no fundo dos cômodos de uma casa.
2. Como é sua relação com seu espaço de trabalho? O que você mais gosta em seu atelier?
Preciso de uma certa organização para a minha mente poder focar no que é importante, diferente do caos dos ateliês de muitos artistas, que eu até acho bonito, só não funciona pra mim! Mas meu ateliê precisa transmitir minha essência, preciso de pontos de conexão com coisas que acho belas, preciso de lembranças e pontos de contato com a minha poética. Tenho um amor por gavetas, gaveteiros, mapotecas.. mas minha paixão mesmo são minhas prensas de gravura, de impressão tipográfica e meus tipos-móveis, garimpados com muito esforço!
3. Aqui na Handred a gente valoriza e cultiva saberes tradicionais e também atuais. Técnicas e artesanais, bordados especiais, estamparia manual e até corte a laser. Seu trabalho com a xilogravura traz um aspecto moderno e gráfico. Como é para você unir uma técnica manual antiga a referências digitais atuais?
Apesar de ser apaixonado pelas técnicas analógicas e por máquinas obsoletas, acho inevitável o uso de novas tecnologias na minha produção. Uso tudo que está ao meu alcance pra me auxiliar e resolver problemas que surgem através das minhas próprias limitações como artista e ilustrador. Além disso, tenho formação em design gráfico, então estou sempre disposto a experimentações e acho que o pensamento de designer ajuda muito na gravura. As vezes uma mini retífica faz um milagre pra solucionar algumas coisas no entalhe da madeira!
4. Como foi criar para a Handred essa xilogravura e vê-la tomando forma nos tecidos?
Foi uma experiência incrível! Pude seguir outras soluções gráficas que são diferentes das que tenho explorado na minha produção atual, dando ênfase a um traço com linhas mais secas que explora as texturas orgânicas que o entalhe tradicional da goiva exerce na madeira. Ver o meu trabalho tomando outras dimensões e usabilidade, principalmente na moda, me deixa orgulhoso de me conectar com minha infância. Fui uma criança que cresci dentro de confecção. Linhas, carretéis, agulhas e rolos de tecido faziam parte do meu universo lúdico de criança e se tornavam brinquedos. Minha família veio do interior e através da moda conseguiu construir uma vida na cidade, então poder participar da criação dessa coleção me conectou diretamente com o ofício da minha mãe e tias.
5. Você já apresentou exposições na Coréia do Sul, Nova York, Polônia e Romênia. Quais outros territórios você gostaria que seu diálogo com a arte te levasse?
Quero percorrer o Brasil, poder chegar em todo o nosso território é algo que me movimenta e encanta. Japão é um lugar que gostaria muito de criar um diálogo. Vejo várias similaridades entre Japão e Brasil, além de ser um país com uma história muito forte na xilogravura. Acredito que essa troca seria incrivelmente produtiva e interessante pra mim.
Thiago editou ao longo dos últimos anos mais de 50 gravuras, muitas
delas esgotadas. Sua obra tem ganhado destaque, tendo sido selecionada para a Bienal de Gravura da Romênia (2021), a Trienal de Arte Latino-Americana de Nova Iorque (2022), a Bienal do Sertão (2023), a Trienal Internacional de Gravura da Polônia (2024) e
a Bienal de Gravura da Armênia (2023).
Texto por Luísa Pollo