— 13 de outubro de 2021
“Quando falamos em MPB, temos sempre de lembrar o que a sigla nos diz: uma música popular e brasileira, isto é, que tem como origem um território específico atravessado pela diversidade de sua cultura.” Leia mais

Dia 17/10 se comemora o Dia da Música Popular Brasileira, em homenagem ao nascimento da compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935), pianista, maxixeira e compositora carioca, uma das precursoras da nossa música. Convidamos o escritor e pesquisador Fred Coelho para criar uma playlist da MPB e dizer algumas palavras sobre esse tema tão querido por nós brasileiros:

Quando falamos em MPB, temos sempre de lembrar o que a sigla nos diz: uma música popular e brasileira, isto é, que tem como origem um território específico atravessado pela diversidade de sua cultura.”

A sigla se consagrou durante o final da década de 1960 e se tornou sinônimo de canção popular no Brasil nas duas décadas seguintes. Sua história, porém, é mais longa do que a própria sigla. Ela está ligada à tradição do compositor urbano dos sambas modernos nas décadas de 1920 e 1930, à Era da Rádio na década de 1940 e à revolução da Bossa Nova. A partir do vocabulário sonoro e literário construído nessas épocas, a MPB também deve ser entendida como um encontro entre jovens universitários ouvintes da tradição e as musicalidades de matriz nordestina ou da diáspora africana, como o baião, o xote, o samba de roda, o afoxé ou músicas de terreiro. Esse encontro de diversas sonoridades em prol de um formato comercial fez da música brasileira, ao mesmo tempo, sucesso popular e força crítica em uma geração que produziu tanto hit parades quanto hinos políticos. Os grandes nomes consagrados conviveram com artistas que fizeram trabalhos inovadores, tratando a canção popular brasileira como um dos produtos estéticos mais bem acabados de nossa cultura para o mundo. Mesmo que hoje em dia não seja mais tão simples entendermos os limites do termo - quase tudo cantado em português pode ser entendido como MPB - a canção popular, suas melodias marcantes, sua harmonia e a poesia de seus criadores ainda impacta as novas gerações e segue sendo parte definitiva de nossa sonoridade - seja no rap, no funk, no sertanejo ou outros estilos contemporâneos. A lista, portanto, é uma homenagem às criações sonoras que fizeram, ao longo de todos esses anos, parte da imaginação pessoal e nacional fazendo, ainda hoje, esse legado crítico e poético se expandir.”

Fred Coelho é pesquisador, professor, ensaísta, escritor e grande amante da música. Tem o gosto e o talento por fazer playlists das mais diversas, sempre acompanhadas de um texto instigante.

Em 2020 publicou o livro Jards Macalé - Eu Só Faço O Que Quero. Além dos Eu, brasileiro, confesso minha culpa e meu pecado (2010) e A semana sem fim – Celebrações e memória da Semana de Arte Moderna de 1922 (2012).